Discurso do Concurso de Oratória 2019


A Araucária angustifolia, também, conhecida popularmente, como pinheiro-brasileiro, colocada na lista oficial, de espécies ameaçadas de extinção no ano de 1992, tem sua origem datada, de mais de 200 milhões de anos. É uma das primeiras plantas a conquistar definitivamente o ambiente terrestre. Dos 20 milhões de hectares originalmente cobertos pela Floresta de Araucária, restam, atualmente, cerca de 3% dessa área. Hoje ela luta por sua sobrevivência.
Boa noite a todos, me chamo Nicoli Krayevski Fernandes, tenho 31 anos de idade, sou professora desde os 19 anos, participo da JCI São Bento do Sul desde o ano de 2011, e assim como a Araucária angustifólia, sou resistência.
O tema do concurso de oratória desse ano, está relacionado ao quinto Objetivo de desenvolvimento sustentável, proposto pela ONU: Igualdade de gênero. Mas ele é bem específico: Como construir uma discussão positiva, acerca da igualdade de gêneros. “HeForShe”.
O tema em um primeiro momento, me causou um certo desconforto, porque mesmo tratando de um assunto que me deixa eufórica para escrever, ele limita a uma discussão positiva acerca da igualdade de gênero, o que me fez ficar por semanas olhando para a folha em branco, da tela do computador.
Não sei as intenção dos que decidiram a temática mas, em meus ouvidos, ficou por todo esse tempo ecoando todos os insultos que já ouvi de homens, enquanto tentava, de forma assertiva, falar sobre a igualdade de gênero.
Novamente me parece que preciso cuidar para não cair em alguma armadilha, pois uma mulher falando de maneira direta e assertiva, criticamente, não significa que ela esteja sendo raivosa, é a sociedade acostumada com séculos de silenciamento e subserviência, não sabendo lidar com uma mulher falando no mesmo tom que um homem. Entretanto, se uma mulher vier até essa tribuna falar de forma enfurecida, lhes aconselho a não fazer uso do julgamento, pois o que não nos falta são motivos…
Aposto as fichas que não tenho, como meus companheiros falarão de forma emociona, de mulheres que fizeram a diferença na história da humanidade, como a jogadora Marta, que quase ao término de sua carreira futebolística, sendo eleita 6 vezes a melhor jogadora do mundo pela FIFA, a maior artilheira de copas do mundo, exibiu uma mensagem sobre igualdade de gênero em sua chuteira na Copa do Mundo de 2019.
Ah Marta, o que fizeram com você e suas companheiras?
Apesar de nunca ter se falado tanto em futebol feminino, do Brasil possuir a melhor jogadora do mundo, o time sofreu fortes críticas, por ser eliminado nas oitavas de final.
Um país que não investe no protagonismo da mulher no esporte, mas exige dela êxito em qualquer circunstância.
Para a mulher vencer na vida, ela tem que se atirar.
Se erra uma vez, tem que tentar outras cem.
É justamente a nova geração, a responsável para levar avante a luta da mulher pela igualdade”.
A frase é da ativista feminista, bióloga e cientista brasileira. Bertha Lutz.
Sua trajetória abriu caminho, para que outras mulheres também se tornassem cientistas.Graças a Bertha, e outras importantes mulheres, é que no dia 11 de fevereiro comemora-se O Dia Internacional de Mulheres e Meninas na Ciência.
No Brasil 72% dos artigos científicos, possuem a autoria ou coautoria de uma mulher. Apesar de assinar a maior parte dos artigos, quando levado em conta o número de mulheres pesquisadoras, que publicam suas pesquisas, ele é menor que o dos homens. No Brasil, elas representam 49% dos autores, de acordo com os dados de 2017.
Creio que não exista a necessidade de eu tentar explicar o motivo da conta não bater, deixo a vocês a responsabilidade da análise.
Esses e outros exemplos de mulheres, me trazem alguns questionamentos, que me causam grande inquietação quando penso no HeForShe.
Se vivemos em uma sociedade patriarcal a tanto tempo, existe um real desejo por parte dos homens pela igualdade de gênero? considerando a não explicita, mas latente submissão da mulher que persiste em pleno século XXI?
Qual a porcentagem de mulheres que possui a consciência de que nos encontramos em um estado de subordinação?
Pois mesmo quando em nosso ambiente de trabalho possuímos algum cargo de chefia, TODAS NÓS vivemos diariamente de forma subordinada ao machismo.
E neste momento possuo a ousadia de colocar em xeque, a temática que nos foi proposta, para tal discurso.
Pois nós sabemos que discutir e explanar nossas ideias sendo mulheres é muito mais difícil, pois não basta você possuir conhecimento, é necessário provar o tempo todo que você o tem.
Já tentaram discutir politica com homens, meninas? Tudo o que você falar, cairá no tom do ridículo, beirando o absurdo.
Crise econômica? Quem vai levar o posicionamento de uma mulher a sério, ao menos que você concorde com cada palavra que eles disserem.
Chego até a me questionar se homens realmente ouvem mulheres, ou enquanto falamos, ficam apenas maquinando boas respostas… é isso que vocês estão fazendo agora?
Tenho outra coisa importante para falar.
Cada dia mais as pessoas ficam horrorizadas, sensibilizadas, com dados, estatísticas, os altos índices de todos os tipos de violência contra a mulher. São tantos os meios, as formas, de se destruir o feminino, que falta linha, falta tempo, falta estômago...
Sabem aqueles dados que vocês leram na internet?
Você se indignou por 20 segundos, balançou a cabeça, e prosseguiu com sua vida
Eu não pertenço a esses dados. Porque eu, Nicoli, assim como dezenas, centenas, milhares de outras mulheres que tiveram seus corpos violados, nunca chegaram ao menos a se tornar estatística. O que temos é apenas uma ferida que sangra. Sangra e ninguém vê.
O que nos resta, é todas as noites abraçarmos a nós mesmas, e repetir baixinho várias e várias vezes: a culpa não é sua! Você fez o que seu nível de consciência lhe permitiu fazer na época. Agora, dorme criança…
Porque eu não sei se vocês sabem, mas a dor ela é atemporal. E quanto maior o nosso nível de consciência, maior a dor se torna.
Não interpretem como vitimismo barato, pois o preço é caro, e infelizmente não sou exceção, somos muitas, muitas iguais.
A socióloga espanhola Rosa Cobo, chama a atenção para novas formas de violência que estão surgindo contra a mulher. A socióloga acredita que essas novas formas de violência estariam ocorrendo como resposta aos nossos avanços, na questão de direitos, da ocupação de espaços públicos e também na mudança dos nossos papéis sociais, inclusive no mundo privado. Essa hipótese sugere que a agressão exacerbada, é uma resposta machista a conquista dos nossos direitos e espaços como mulheres.
Professora Rosa, sua pesquisa não me espanta. É só pararmos por um minuto e nos questionarmos o motivo que leva a sociedade a julgar uma vítima de estupro. Uma sociedade que faz com que a vítima, torne-se réu, em fração de segundos. Que se torne vitima duas vezes: do seu estuprador e da sociedade.
Mas vamos ao que nos solicita diretamente o tema: Como construir uma discussão positiva acerca da igualdade de gênero.
Usarei de tópicos para os que desejarem anotar:

- Inicie o dialogo com uma mulher, sem levar em consideração seus precedentes criminais que nunca foram a um real julgamento, e de suas ancestrais, tais como: Bruxas, feiticeiras, incultas, bobas, loiras burras, mulher objeto, mulher fatal, mulher frívola, mulher frágil. Vamos nos lembrar: mulher é mulher e pronto!

- Entenda que ser feminina, sensual, elegante, executiva, artista, dona de casa, motorista, professora, intelectual, é uma escolha exclusivamente dela! Ela pode fazer tudo ao mesmo tempo ou não. A decisão não compete a você.

- Se esses pensamentos insistirem em permear a sua mente, tente lembrar-se de que ela iniciou a sua jornada como a grande mãe, genitora, guardiã da vida, deusa, desenvolveu a agricultura, domesticou diversos animais, organizou as cavernas e casas.

- Quando sentir-se então preparado, inicie o dialogo.

- Se você não sabe ainda respeitar uma mulher, finja que sabe, haja como se fosse respeitoso, talvez seja um começo para o aprendizado.

- Quando ela estiver falando, ouça o que ela tem para dizer, respeite a fala dela, não interrompa com comentários, talvez você ainda não saiba, mas isso é feio, e tira o protagonismo da mulher no seu discurso.

- Quando ouvir sobre um caso de assédio, não faça comentários como questionar a roupa que a vítima estava usando. Se você está supondo, provavelmente você está errado.

- Não terá validade o seu discurso de benevolência, participar de ONGs e atividades na comunidade, se vestir de papai noel no final do ano e postar fotos entregando presentes as criancinhas, enquanto sabe que seu brother do futebol bate na namorada e você é conivente.

- Se você está solteiro e sente-se atraído por uma mulher que te diz não, ela não está fazendo joguinho. Não é Não!

- Na balada, mulheres ainda precisam mentir que estão acompanhadas para se livrar de caras chatos que só respeitam outro homem. Não seja esse cara chato.

- Nosso maior medo ao andarmos sozinhas na rua durante a noite é encontrarmos um homem. Se você encontrar na rua de noite uma mulher, saiba que ela estará com muito medo de você. Se afaste o máximo possível para que ela sinta-se segura.

- Essa é uma dica valiosa retirada do site AGENDA 2030 do dia 27 de maio de 2019: Mulheres em posição de chefia nas empresas podem gerar resultados até 20% melhores afirmam especialistas.

E para vocês meninas, o que posso sugerir nesse discurso que está a beira de um tutorial é: quando encontrar um homem incapaz de discutir com sensatez qualquer assunto, ABSTRAIA,FINJA DEMÊNCIA, FAZ A EGÍPCIA, IGNORA, MAS NÃO SE DESEQUILIBRE POR CONTA DE QUEM NÃO MERECE UM SEGUNDO DO SEU DIA.

Para encerrar minha fala, gostaria de utilizar de um poema que muitas vezes me acalentou. Ele é de pedro Munhoz e chama-se Morrer.

TENHO MORRIDO TANTAS VEZES
DEPOIS, RESPIRO FUNDO
LAVO O ROSTO, SIGO EM FRENTE
NÃO É FÁCIL MORRER
DIFÍCIL É RENASCER
FINGIR-SE DE SOL, CEGAR ALUA, BEBER O MAR
DETESTÁVEL SERIA TER A COVARDIA DOS QUE ME MATARAM
EU SIGO RENASCENDO
ELES SEGUEM COVARDES

OBRIGADA!

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